O choro da orientadora educacional Antônia Lucimeire Oliveira, 41, na
última quinta-feira (6), foi o retrato fiel da indignação dos professores
e servidores da rede municipal de Juazeiro do Norte (a 548 km de
Fortaleza), que terão seus vencimentos reduzidos em até 40%.
Na tarde da última quinta-feira, a orientadora da escola municipal
Izabel da Luz foi até a Câmara de Vereadores para pressionar os
parlamentares a não aprovarem o projeto da prefeitura que previa
mudanças no PCCR (Plano de Cargos, Carreira e Remuneração). Mas não
segurou o choro antes mesmo da votação. Ela considera que o choro é um
desabafo da 'revolta' dos professores.
"Na verdade, aquele choro veio depois de um grito e foi antes da
votação. Foi uma forma de desabafar o que estava sentido e via naquele
momento. Estávamos passando uma pressão muto grande. A polícia já tinha
soltado spray de pimenta, e eu tinha de desabafar de algum jeito. Nunca
tinha participado de algo daquele tipo, só via na televisão. Não havia
necessidade de haver policiais armados com pistolas, fuzis", comentou,
em entrevista nesta quarta-feira (12) ao UOL.
Nessa terça-feira (11), os servidores entraram em greve para protestar contra a aprovação do projeto.
Choro antes e depois
Oliveira disse que apesar de só ser fotografada antes da sessão, após a
aprovação, chorou novamente. "A indignação foi a mesma. O caráter de
revolta foi o mesmo. Chorei por tudo: pela humilhação, pela decepção.
Fiquei muito mal. Passei dois dias aérea. Toda vez que a gente lembra,
sofre de novo ", disse.
A orientadora disse, que no momento em que foi anunciada a aprovação,
se sentiu "péssima." "Foi como se a gente, como se a voz do povo, de uma
sociedade organizada em grupo, não tivesse valor algum. Aquela sessão
não tinha condições de aprovar nada, até por conta do que houve, do
barulho. Ninguém conseguia se expressar para o outro. Creio que foi um
desmando, uma desconsideração com a nossa classe, já tão sofrida",
contou.
A professora lembra que a conquista do PCCR veio após longa luta da
categoria no ano passado. "Quando a gente pensa que está tranquilo,
depois de tanta luta, vê que não está. A gente não sabe nem como chamar
isso. É um absurdo, principalmente a forma como feito. Vimos que aqueles
representantes do povo, não são: são representantes deles próprios.
Isso foi muito ruim para a população, para nós, professores. É incrível
como eles não ligam em ter uma imagem de uma Câmara tão negativa"
Histórico e foto
Oliveira começou como professora da educação infantil em 1993. Aprovada
em concurso público como orientadora educacional em 1997, foi
contratada pela prefeitura de Juazeiro do Norte em 2001, onde está desde
aquela época.
A orientadora diz que não sabe quanto vai perder de rendimento com a
decisão da Câmara. "Não tenho ideia, uma amiga ficou de ver isso",
afirmou, sem citar o salário.
A orientadora disse que, desde a quinta-feira, por conta da repercussão
da foto, ficou mais reservada. Ela não esconde, porém, que a imagem do
seu choro é um retrato fiel de um sentimento que tomou conta da
categoria.
"Aquela foto expressou a revolta da gente. Não só pela aprovação, mas
principalmente pela violência. Estou procurando me manter mais afastada,
minha imagem já rodou demais. Se a foto está para ajudar a nossa causa,
os professores, ótimo! Mas não vou permitir charge", disse Oliveira,
citando que já foi alvo de dois desenhos que foram colocados nas redes
sociais e pediu para que fossem excluído.
Oliveira ainda disse que tem esperança de que a aprovação da Câmara
seja revertida. "Tenho esperança que eles caiam em si, que isso não é
bom para população. Há outros meios para resolver a situação. A gente
espera que a lei não seja sancionada, que Deus toque o coração deles",
finalizou.
A redução
Em nota oficial, a prefeitura de Juazeiro informou que a reformulação
do PCCR teve de ser feita para que as contas municipais pudessem fechar
sem débitos e que atualmente para manter o pagamento dos professores
como está "extrapola o limite de 60% dos recursos do Fundeb e deixa
apenas 13% para investimentos no setor ao invés dos 40% definidos em
lei".
O prefeito Raimundo Macedo (PMDB) disse, em nota, que sua preocupação é
pagar os salários dos servidores em dia e afirma que a gestão anterior
deixou um débito de R$ 5 milhões para serem arcados pela sua
administração.
A nota destaca ainda que a reforma do PCCR "em nada alteram a condição
dos professores de Juazeiro em continuarem percebendo um dos maiores
salários do magistério em nível de Ceará e desafia comparações. Nenhum
professor terá seu salário reduzido, conforme garantia dada pelo próprio
município."
A procuradoria do município afirmou que "na realidade o que aconteceu
foi a incorporação de 10% da gratificação ao salário base."
Fonte: www.educacao.uol.com.br
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