Professora Elizabeth Gomes (no centro em cima) e seus alunos. Foto: Arquivo pessoal da família |
ANTES DE FIBRA FORTE JÁ FUI O FORRÓ DA BETE, DO ZEZÉ, DO OLDACK
E DO LELINHO. A BREVE HISTÓRIA DE UMA FESTA QUE COMPLETA 60 ANOS.
São João, festa de origem europeia e católica
é a maior manifestação cultural do povo varzeanovense desde as suas mais remotas
origens. Se atualmente comemoramos os festejos juninos na condição de maior
festividade local, não podemos nos esquecer de suas raízes e como chegamos às
condições atuais da festa da fogueira, do licor e do forró. Para melhor
entendê-la vamos dividi-la levando em consideração as origens e as
transformações que aconteceram com o passar das décadas.
Elizabeth Gomes,
jacobinense, nascida em 23 de junho de 1933 chegou à Vila de Várzea Nova em
março de 1953 para exercer a profissão de professora do Estado em substituição
à professora Adjaci Martins Durans. Aqui chegando, logo procurou animar a
pequena comunidade com festas, brincadeiras e jogos. Nesse mesmo ano, seria a
responsável pela primeira festa junina que se tem conhecimento em nossas
terras, como a data de seu aniversário coincidia com os festejos a professora
juntamente com alunos, pais e comunidade organizaram no Prédio Escolar 23
fogueiras, sendo a fogueira principal de ramos e as outras 22 de madeira de
umburanas.
A partir daí as
comemorações se tornaram anuais sendo realizado nas escolas e em espaços
fechados como depósitos, um deles localizado na atual Rua Ângelo Brandão. Além
da professora Beth, assim carinhosamente conhecida, outros cidadãos locais
passaram a realizar festejos em períodos juninos e em outras datas como o
senhor Aderbal Oliveira que no ano de 1966 realizou uma festa em comemoração ao
santo católico em um espaço localizado na Praça Zacarias Domingos de Jesus, em
esquina com a atual Rua Maurício Lopes com animação de “Orlando e seu
conjunto”. No mesmo dia, a professora Beth animava a população organizando uma
festa em outro depósito localizado atualmente na Praça Otacílio Alcântara, mais
precisamente onde funciona a atual Lan House Mundo Virtual, com a participação
de “Amado e seu conjunto”. Sendo assim, podemos afirmar que nosso São João, ao
contrário do que muitos imaginam, saiu das escolas para as praças e não no
sentido contrário. A escola foi o verdadeiro berço de nossa maior manifestação
cultural.
Nesse período dois
outros grandes cidadãos começavam a se destacar nos meios sociais da época, um
filho da cidade de Itiúba e o outro nascido em Pindorama atual Tapiranga
distrito da cidade de Miguel Calmon, Olinézio Santos e Oldack Rios ajudaram a construir
os momentos áureos de nossas festividades. Olinézio ou Lelinho como muitos o
conhecem tinha recebido da professora Elizabeth o pedido de continuar com as
festividades iniciadas na década de 50 na nossa vila, não só continuou como se
tornou um dos grandes símbolos da cultura local. Por outro lado, o senhor
Oldack Rios, farmacêutico, médico, futebolista e amante da cultura e do esporte
se tornava a marca maior do São João varzeanovense com sua famosa fogueira de
ramos.
Nosso São João passou
por diversas etapas em busca de sua identidade, entre elas os famosos
“Ranchões” na década de 70, que segundo nossas fontes orais foram idealizadas
pelo senhor José Donato dos Reis, conhecido por Zezé, sobrinho de um dos
primeiros moradores de nossa cidade, o senhor João Donato dos Reis. Foram
organizados quatro “Ranchões”, dois deles na atual Praça Otacílio Alcântara no
atual endereço da Farmácia Ideal e os outros dois na Rua do Morro atual Avenida
Presidente Médici, nesses espaços a animação era regra com muito forró pé de
serra, comida e bebidas típicas. O assassinato de um dos moradores da
comunidade pode ter sido a principal motivação para o final desse ciclo de
nossas festas juninas.
Nesse momento as
festividades se direcionaram novamente para os locais fechados e para a Praça
Otacílio Alcântara, entre esses se destacava o Clube Social no espaço do senhor
João Luiz. Nesse local a sociedade varzeanovense se reunia para dançar, jogar e
se divertir nos finais de semana, além disso, as festas de São João também
faziam parte do calendário festivo do espaço.
O São João no Clube Social, espaço do Sr. João Luiz-1981. Foto: Arquivo pessoal da família de Luiz Araújo. |
Nesse contexto tinha
sido inaugurado na Praça Otacílio Alcântara o “Cine Alvorada”, um dos maiores e
mais equipados cinemas da região e “A Cinderela” espaços de difusão da cultura
local e de propriedade do senhor Olinézio. A Cinderela se tornou palco de
festas memoráveis e endereço da sociedade local que procurava a diversão, nesse
local o São João era comemorado com apresentações de atrações musicais que
animavam a todos. Ao lado, encontrava-se a Farmácia São João de propriedade de
Oldack Rios, a farmácia teve seu primeiro endereço na atual residência do
senhor Cleobaldo Oliveira, vulgo Zé Oliveira, vizinho à Cantina do Quêu.
O estabelecimento
comercial e local onde os varzeanovenses procuravam a cura para as mais
variadas doenças teve seu nome levado a sério pelo proprietário que junto com
Elizabeth, Olinézio, Zezé e outros cidadãos construíram a história de nosso São
João. Oldack não poupava esforços e com o apoio de amigos e da comunidade fez
de sua fogueira de ramos um dos maiores atrativos juninos da comunidade. Com
uma premiação atraente, muitos eram os que se arriscavam na aventura de buscar
um prêmio. Aventura por que o Sr. Oldack seguia a tradição e adquiria uma
grande quantidade de espadas para serem utilizadas no intuito de intimidar os
corajosos que se aventuravam com o objetivo de sair com os melhores prêmios,
alguns inclusive usavam de técnicas para diminuir o efeito do fogo provocado
pelas espadas como o banho tomado momentos antes da esperada queda do ramo.
Sr. Oldack Rios e sua fogueira de ramos. Foto: Arquivo pessoal da família |
Como parte da festa o
senhor Olinézio ficava responsável pela corrida de saco, o quebra-pote e o
pau-de-sebo, que era preparado com suas orientações e tinha no topo pomposa
premiação em dinheiro para quem alcançasse e descesse com a fita. Segundo Lelinho na brincadeira do quebra-pote
colocava-se em princípio um gato dentro do pote, mas depois que alguns deles
passaram a se machucar a ideia deixou de existir, mesmo assim anunciava-se a
premiação para quem pegasse o gato como forma de atrair os participantes. A
Praça Otacílio Alcântara se constituía como o espaço oficial de nosso São João
o que se concretizou com a emancipação da vila e formação da cidade de Várzea Nova
em 1985.
Praça Otacílio Alcântara com pequena parte calçada para o forró. Foto: Arquivo pessoal Galdino César |
A partir desse
momento o São João foi oficializado como nossa principal festa, adquirindo com
isso o status de principal festa do ano no calendário local. A partir daí,
nascem outras características dos festejos como a apresentação em praça pública
de atrações de renome local, regional e nacional que passaram a se apresentar
em palcos e trios elétricos. De 1985 a 1991, a festa aconteceu na Praça
Otacílio Alcântara, espaço esse que não contava com pavimentação central o que
contribuía para a realização das tradições como fogueira em pé e das
tradicionais barracas de palha que se tornaram mais um dos símbolos da festa.
Com a pavimentação e inauguração das duas praças em 1992 a festa passou a ser
realizada na praça de baixo, assim conhecida a Zacarias Domingos de Jesus,
ainda em 1992 a festa aconteceu nos dois espaços, durante o dia com
apresentações musicais em um trio elétrico na praça de cima e à noite em palco
montado na praça de baixo no centro da cidade. Nesse período o São João passou
a tomar outra dimensão devido à condição de cidade em que a vila tinha se
tornado, portanto era preciso atrair um número cada vez maior de visitantes
para a jovem princesinha do sisal, que vinham conferir uma das mais dançantes
festas juninas do interior da Bahia.
Entre a segunda
metade dos anos 90 e início dos anos 2000 outra tradição começou a nascer nas
festas de São João, os blocos juninos com características próprias e que
atraiam milhares de pessoas a cada ano, entre os mais animados destacavam-se o
“Tiortina”, “O Canudão”, “Tô Comendo Água” e o “Candieiro”. Mesmo não contando
com o profissionalismo de outros blocos da região esses blocos atraiam grande
número de pessoas que se divertiam ao som de muita música e bebidas típicas ou
não. O bloco Tô Comendo Água que teve sua primeira aparição em 1999 e a última
em 2005 foi sem dúvida o de maior público acompanhado de perto do bloco
Tiortina que antecedeu o “rival” nos nossos festejos de junho. Junto com os
blocos vieram os concursos de quadrilha e a quadrilha maluca onde se vestir de
homem ou de mulher era mera diversão para os participantes e o público.
Nos anos 2000, as
festas continuam e nos anos de 2007 e 2008 recebemos aqui o maior público e
contamos com as maiores e melhores estruturas para os festejos juninos já
montados na cidade, realizados em um novo espaço a praça da feira livre, espaço
adequado para grandes eventos que aconteceriam nesses dois anos. O bom gosto da
ornamentação, das barracas e de todo o espaço foram dignas de comentários
elogiosos de um dos grandes nomes do forró nacional, o cantor cearense Alcymar
Monteiro.
Em 2009 o São João
voltou a ter como palco principal a Praça Zacarias Domingos de Jesus onde nos
dias atuais é festejado, não mais com a inocência das brincadeiras e das
tradições juninas que foram se perdendo com o passar dos anos, mas com um
público apaixonado por essa festa que transmite calor humano e alegria. São
João é sinônimo de reencontro de familiares e amigos, quando a festa se
aproxima nos alegramos com a presença dos conterrâneos, tempo de sentirmos o
cheiro dos fogos e o calor das fogueiras cada vez mais raras e o sabor dos
licores, da canjica, da pamonha, do amendoim e dos bolos de milho.
Nesse percurso
histórico, torna-se necessário dizer que as festas juninas não ficaram
restritas à sede do município, após sua emancipação as comunidades de Tabúa,
Salinas, Santo Antônio e Mulungú sempre festejaram o São João, seja nas casas,
ruas ou escolas sempre houve comemoração. E o que dizer dos barraqueiros que
tradicionalmente marcaram nossa história, desde as barracas famosas do 3º ano
do Ensino Médio quando tínhamos o curso de Magistério às mais e menos visitadas
no nosso circuito do forró, são eles que recebem com cordialidade nossos
visitantes a cada ano de festa.
Quando completamos 60
anos de nossa maior festa também não podemos esquecer-nos dos grandes nomes da
música que estiveram em nossos ranchões, depósitos, boate, barracas, palcos,
trios elétricos e nos mais diversos arrasta pé. Como não recordar das
apresentações de Amelinha, Genival Lacerda, Paulinho Boca de Cantor, Oswaldinho,
Zé Duarte, Alcymar Monteiro, Adelmário Coelho, Rabelo Gonzaga, Dorgival Dantas,
Banda Magníficos e de outros não tão forrozeiros como Amado Batista que
realizou o show com maior público de nossa história em 1993, Eduardo Costa e
tantos outros menos famosos como Nenê do Acordeom e nossos artistas locais. Se
apresentar em Várzea Nova sempre foi sinônimo de cantar e tocar para um público
dançante e acima de tudo apaixonado pelas suas raízes, que sempre recebeu muito
bem seus visitantes. Recebemos também em nossa terra o famoso “Trio Nordestino”
que se apresentou para os amantes do forró em um evento organizado por uma rede
de lojas de móveis “A Motinha” com o patrocínio da marca americana Monark em
frente à Panificadora Ideal na Praça Zacarias Domingos de Jesus.
Obrigado à professora
Elizabeth, aos senhores Oldack, Olinézio e Zezé, aos Joãos, Marias, Joanas,
Pedros, Josés e a todos que ajudaram e ajudam a manter nosso maior patrimônio
cultural: O São João. Sem essas pessoas não chegaríamos à maioridade de nossa
principal festa, sem elas nossos sonhos não teriam se realizado, nossos namoros
não teriam acontecido, nossos jovens não teriam lembranças de um passado tão
alegre e prazeroso e a certeza de um presente de festa junina. E viva o São
João!
Texto: Gedeão Fraga
de Morais
Revisão final:
Professora Valdirene Carvalho
Informações obtidas a
partir de fontes orais na comunidade.
Gedeão, olha eu ali pequeno de camiseta branco, e short verde, rsrs....
ResponderExcluirGffll
ExcluirExcelente r4curso para conhecer a história de nosso São João.
ResponderExcluirQue trabalho maravilhoso professor!! PARABÉNS!!
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