quinta-feira, 20 de junho de 2013

UMA BREVE HISTÓRIA DE NOSSO SÃO JOÃO QUE COMPLETA 60 ANOS

Professora Elizabeth Gomes (no centro em cima) e seus alunos. Foto: Arquivo pessoal da família



ANTES DE FIBRA FORTE JÁ FUI O FORRÓ DA BETE, DO ZEZÉ, DO OLDACK E DO LELINHO. A BREVE HISTÓRIA DE UMA FESTA QUE COMPLETA 60 ANOS.
 São João, festa de origem europeia e católica é a maior manifestação cultural do povo varzeanovense desde as suas mais remotas origens. Se atualmente comemoramos os festejos juninos na condição de maior festividade local, não podemos nos esquecer de suas raízes e como chegamos às condições atuais da festa da fogueira, do licor e do forró. Para melhor entendê-la vamos dividi-la levando em consideração as origens e as transformações que aconteceram com o passar das décadas.
Elizabeth Gomes, jacobinense, nascida em 23 de junho de 1933 chegou à Vila de Várzea Nova em março de 1953 para exercer a profissão de professora do Estado em substituição à professora Adjaci Martins Durans. Aqui chegando, logo procurou animar a pequena comunidade com festas, brincadeiras e jogos. Nesse mesmo ano, seria a responsável pela primeira festa junina que se tem conhecimento em nossas terras, como a data de seu aniversário coincidia com os festejos a professora juntamente com alunos, pais e comunidade organizaram no Prédio Escolar 23 fogueiras, sendo a fogueira principal de ramos e as outras 22 de madeira de umburanas.
A partir daí as comemorações se tornaram anuais sendo realizado nas escolas e em espaços fechados como depósitos, um deles localizado na atual Rua Ângelo Brandão. Além da professora Beth, assim carinhosamente conhecida, outros cidadãos locais passaram a realizar festejos em períodos juninos e em outras datas como o senhor Aderbal Oliveira que no ano de 1966 realizou uma festa em comemoração ao santo católico em um espaço localizado na Praça Zacarias Domingos de Jesus, em esquina com a atual Rua Maurício Lopes com animação de “Orlando e seu conjunto”. No mesmo dia, a professora Beth animava a população organizando uma festa em outro depósito localizado atualmente na Praça Otacílio Alcântara, mais precisamente onde funciona a atual Lan House Mundo Virtual, com a participação de “Amado e seu conjunto”. Sendo assim, podemos afirmar que nosso São João, ao contrário do que muitos imaginam, saiu das escolas para as praças e não no sentido contrário. A escola foi o verdadeiro berço de nossa maior manifestação cultural.
Nesse período dois outros grandes cidadãos começavam a se destacar nos meios sociais da época, um filho da cidade de Itiúba e o outro nascido em Pindorama atual Tapiranga distrito da cidade de Miguel Calmon, Olinézio Santos e Oldack Rios ajudaram a construir os momentos áureos de nossas festividades. Olinézio ou Lelinho como muitos o conhecem tinha recebido da professora Elizabeth o pedido de continuar com as festividades iniciadas na década de 50 na nossa vila, não só continuou como se tornou um dos grandes símbolos da cultura local. Por outro lado, o senhor Oldack Rios, farmacêutico, médico, futebolista e amante da cultura e do esporte se tornava a marca maior do São João varzeanovense com sua famosa fogueira de ramos.
Nosso São João passou por diversas etapas em busca de sua identidade, entre elas os famosos “Ranchões” na década de 70, que segundo nossas fontes orais foram idealizadas pelo senhor José Donato dos Reis, conhecido por Zezé, sobrinho de um dos primeiros moradores de nossa cidade, o senhor João Donato dos Reis. Foram organizados quatro “Ranchões”, dois deles na atual Praça Otacílio Alcântara no atual endereço da Farmácia Ideal e os outros dois na Rua do Morro atual Avenida Presidente Médici, nesses espaços a animação era regra com muito forró pé de serra, comida e bebidas típicas. O assassinato de um dos moradores da comunidade pode ter sido a principal motivação para o final desse ciclo de nossas festas juninas.
Nesse momento as festividades se direcionaram novamente para os locais fechados e para a Praça Otacílio Alcântara, entre esses se destacava o Clube Social no espaço do senhor João Luiz. Nesse local a sociedade varzeanovense se reunia para dançar, jogar e se divertir nos finais de semana, além disso, as festas de São João também faziam parte do calendário festivo do espaço. 
O São João no Clube Social, espaço do Sr. João Luiz-1981. Foto: Arquivo pessoal da família de Luiz Araújo.

Nesse contexto tinha sido inaugurado na Praça Otacílio Alcântara o “Cine Alvorada”, um dos maiores e mais equipados cinemas da região e “A Cinderela” espaços de difusão da cultura local e de propriedade do senhor Olinézio. A Cinderela se tornou palco de festas memoráveis e endereço da sociedade local que procurava a diversão, nesse local o São João era comemorado com apresentações de atrações musicais que animavam a todos. Ao lado, encontrava-se a Farmácia São João de propriedade de Oldack Rios, a farmácia teve seu primeiro endereço na atual residência do senhor Cleobaldo Oliveira, vulgo Zé Oliveira, vizinho à Cantina do Quêu.
O estabelecimento comercial e local onde os varzeanovenses procuravam a cura para as mais variadas doenças teve seu nome levado a sério pelo proprietário que junto com Elizabeth, Olinézio, Zezé e outros cidadãos construíram a história de nosso São João. Oldack não poupava esforços e com o apoio de amigos e da comunidade fez de sua fogueira de ramos um dos maiores atrativos juninos da comunidade. Com uma premiação atraente, muitos eram os que se arriscavam na aventura de buscar um prêmio. Aventura por que o Sr. Oldack seguia a tradição e adquiria uma grande quantidade de espadas para serem utilizadas no intuito de intimidar os corajosos que se aventuravam com o objetivo de sair com os melhores prêmios, alguns inclusive usavam de técnicas para diminuir o efeito do fogo provocado pelas espadas como o banho tomado momentos antes da esperada queda do ramo.
Sr. Oldack Rios e sua fogueira de ramos. Foto: Arquivo pessoal da família

Como parte da festa o senhor Olinézio ficava responsável pela corrida de saco, o quebra-pote e o pau-de-sebo, que era preparado com suas orientações e tinha no topo pomposa premiação em dinheiro para quem alcançasse e descesse com a fita.  Segundo Lelinho na brincadeira do quebra-pote colocava-se em princípio um gato dentro do pote, mas depois que alguns deles passaram a se machucar a ideia deixou de existir, mesmo assim anunciava-se a premiação para quem pegasse o gato como forma de atrair os participantes. A Praça Otacílio Alcântara se constituía como o espaço oficial de nosso São João o que se concretizou com a emancipação da vila e formação da cidade de Várzea Nova em 1985.
Praça Otacílio Alcântara com pequena parte calçada para o forró. Foto: Arquivo pessoal Galdino César

A partir desse momento o São João foi oficializado como nossa principal festa, adquirindo com isso o status de principal festa do ano no calendário local. A partir daí, nascem outras características dos festejos como a apresentação em praça pública de atrações de renome local, regional e nacional que passaram a se apresentar em palcos e trios elétricos. De 1985 a 1991, a festa aconteceu na Praça Otacílio Alcântara, espaço esse que não contava com pavimentação central o que contribuía para a realização das tradições como fogueira em pé e das tradicionais barracas de palha que se tornaram mais um dos símbolos da festa. Com a pavimentação e inauguração das duas praças em 1992 a festa passou a ser realizada na praça de baixo, assim conhecida a Zacarias Domingos de Jesus, ainda em 1992 a festa aconteceu nos dois espaços, durante o dia com apresentações musicais em um trio elétrico na praça de cima e à noite em palco montado na praça de baixo no centro da cidade. Nesse período o São João passou a tomar outra dimensão devido à condição de cidade em que a vila tinha se tornado, portanto era preciso atrair um número cada vez maior de visitantes para a jovem princesinha do sisal, que vinham conferir uma das mais dançantes festas juninas do interior da Bahia.
Entre a segunda metade dos anos 90 e início dos anos 2000 outra tradição começou a nascer nas festas de São João, os blocos juninos com características próprias e que atraiam milhares de pessoas a cada ano, entre os mais animados destacavam-se o “Tiortina”, “O Canudão”, “Tô Comendo Água” e o “Candieiro”. Mesmo não contando com o profissionalismo de outros blocos da região esses blocos atraiam grande número de pessoas que se divertiam ao som de muita música e bebidas típicas ou não. O bloco Tô Comendo Água que teve sua primeira aparição em 1999 e a última em 2005 foi sem dúvida o de maior público acompanhado de perto do bloco Tiortina que antecedeu o “rival” nos nossos festejos de junho. Junto com os blocos vieram os concursos de quadrilha e a quadrilha maluca onde se vestir de homem ou de mulher era mera diversão para os participantes e o público.
Nos anos 2000, as festas continuam e nos anos de 2007 e 2008 recebemos aqui o maior público e contamos com as maiores e melhores estruturas para os festejos juninos já montados na cidade, realizados em um novo espaço a praça da feira livre, espaço adequado para grandes eventos que aconteceriam nesses dois anos. O bom gosto da ornamentação, das barracas e de todo o espaço foram dignas de comentários elogiosos de um dos grandes nomes do forró nacional, o cantor cearense Alcymar Monteiro.
Em 2009 o São João voltou a ter como palco principal a Praça Zacarias Domingos de Jesus onde nos dias atuais é festejado, não mais com a inocência das brincadeiras e das tradições juninas que foram se perdendo com o passar dos anos, mas com um público apaixonado por essa festa que transmite calor humano e alegria. São João é sinônimo de reencontro de familiares e amigos, quando a festa se aproxima nos alegramos com a presença dos conterrâneos, tempo de sentirmos o cheiro dos fogos e o calor das fogueiras cada vez mais raras e o sabor dos licores, da canjica, da pamonha, do amendoim e dos bolos de milho.
Nesse percurso histórico, torna-se necessário dizer que as festas juninas não ficaram restritas à sede do município, após sua emancipação as comunidades de Tabúa, Salinas, Santo Antônio e Mulungú sempre festejaram o São João, seja nas casas, ruas ou escolas sempre houve comemoração. E o que dizer dos barraqueiros que tradicionalmente marcaram nossa história, desde as barracas famosas do 3º ano do Ensino Médio quando tínhamos o curso de Magistério às mais e menos visitadas no nosso circuito do forró, são eles que recebem com cordialidade nossos visitantes a cada ano de festa.
Quando completamos 60 anos de nossa maior festa também não podemos esquecer-nos dos grandes nomes da música que estiveram em nossos ranchões, depósitos, boate, barracas, palcos, trios elétricos e nos mais diversos arrasta pé. Como não recordar das apresentações de Amelinha, Genival Lacerda, Paulinho Boca de Cantor, Oswaldinho, Zé Duarte, Alcymar Monteiro, Adelmário Coelho, Rabelo Gonzaga, Dorgival Dantas, Banda Magníficos e de outros não tão forrozeiros como Amado Batista que realizou o show com maior público de nossa história em 1993, Eduardo Costa e tantos outros menos famosos como Nenê do Acordeom e nossos artistas locais. Se apresentar em Várzea Nova sempre foi sinônimo de cantar e tocar para um público dançante e acima de tudo apaixonado pelas suas raízes, que sempre recebeu muito bem seus visitantes. Recebemos também em nossa terra o famoso “Trio Nordestino” que se apresentou para os amantes do forró em um evento organizado por uma rede de lojas de móveis “A Motinha” com o patrocínio da marca americana Monark em frente à Panificadora Ideal na Praça Zacarias Domingos de Jesus.
Obrigado à professora Elizabeth, aos senhores Oldack, Olinézio e Zezé, aos Joãos, Marias, Joanas, Pedros, Josés e a todos que ajudaram e ajudam a manter nosso maior patrimônio cultural: O São João. Sem essas pessoas não chegaríamos à maioridade de nossa principal festa, sem elas nossos sonhos não teriam se realizado, nossos namoros não teriam acontecido, nossos jovens não teriam lembranças de um passado tão alegre e prazeroso e a certeza de um presente de festa junina. E viva o São João!

Texto: Gedeão Fraga de Morais
Revisão final: Professora Valdirene Carvalho
Informações obtidas a partir de fontes orais na comunidade.






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