Sou daquelas que não acredita em ideia brilhante que produza educação de
qualidade sem educadores e, para mim, internet, livro, música, lousa,
ferramenta, vídeo, robô ou o que for, vem depois de garantir uma pessoa
preparada para lidar com os alunos . A maioria (fiquei tentada a dizer
todos, mas vá lá) dos especialistas e autoridades de Educação que
entrevisto juraria o mesmo e, pelo resultado da enquete com 25 mil
votantes do iG sobre qual é a meta mais importante do Plano Nacional de
Educação (PNE), essa é a prioridade para 78% das pessoas. Não pode ser.
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| Reprodução da página da votação realizada pelo portal IG |
Como para tudo na vida, virão os que gostam de dizer que a culpa é
dos governantes. Claro que sim: se a valorização do professor não fosse
apenas bordão, qualquer dinheiro de tablet, uniforme para crianças que
nem querem usá-lo e compra de material didático que em geral já existe
viraria investimento na formação e no bolso do professor. Inclusive,
desconfio que há mais razões do que a simples ideologia para que
governos privilegiem compras – e portanto pagamento a empresas que podem
se tornar parceiras em campanhas – do que investimento em pessoal. Mas
qual a reação que você leitor e cidadão tem quando vê o aluno com um
computador portátil na rede pública? E quando se depara com professor em
greve?
Há poucas semanas, mais ou menos quando as redes estadual e municipal
de São Paulo estavam parcialmente paralisadas, os professores também
pararam na Dinamarca. Lá foram quatro semanas inteiras em que todos
deixaram de trabalhar e, como no país com um dos melhores sistemas de
ensino do mundo educação pública não difere classe social, todos os pais
se viram com seus filhos em casa por um mês. Confesso que encontrei um
número reduzido de relatos sobre o assunto, mas em geral os depoimentos
ou reportagens comentavam como as famílias se revezaram para cuidar das
crianças umas das outras ou as empresas permitiram que os funcionários
levassem visitantes mirins aos escritórios. Nenhum insultava as pessoas a
quem depois seria confiada a educação das crianças e adolescentes.
Todos sabemos que no Brasil é diferente. Os alunos que agem com
violência contra os mestres nas escolas são apenas reflexo da sociedade
toda. Quando na matéria “As vidas que o PNE poderia mudar”,
o professor Renato Ribeiro disse que chega a ganhar R$ 53 por mês – com
holerite oficial do Governo do Estado de São Paulo na mão e explicação
para o absurdo no texto – nem um, nem dois, mas vários leitores o
acusaram de mentiroso. Nenhum prestou solidariedade. No máximo, outros
professores corroboraram a informação.
Em um outro comentário, do Geraldo Donizete dos Santos, fica claro
que não é só o salário que desvaloriza: “Sou aluno de ciências sociais e
apesar da grande carência de professores na rede pública estadual,
prefiro dar aula para cachorro, pois sou adestrador de cães e é com esta
profissão que pago minha faculdade e mantenho minha família.
Infelizmente o governo de São Paulo coloca o professor e os alunos
abaixo de cães. Como adestrador mantenho minha dignidade.” Lembrei da
Geni, do Chico Buarque.
Não se trata de mandar uma maçã para o professor – se bem que até um
gesto simpático seria benvindo – mas ajustar o discurso à prática.
Cinthia Rodrigues - IG

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