Os dados são do Censo Escolar 2011,
realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e estão no Anuário Brasileiro da
Educação Básica (para baixar, clique aqui).
Muitos são professores que lecionam,
normalmente, em mais de uma rede, mesclando a municipal e a estadual ou
uma pública com a particular. Há casos também de docentes que dão aula
em uma unidade e são diretores em outra. As dificuldades impostas pelo
trabalho em mais de uma unidade de ensino, independentemente do tipo de
combinação, segundo especialistas, são diversas. A falta de tempo
decorre de uma série de fatores que o trabalho em mais de uma unidade de
ensino gera.
Deslocamento e qualidade de vida
Percorrer a distância entre uma escola e
outra, seja de carro, seja de transporte público, pode ser complicado
em grandes cidades e capitais. "O deslocamento em uma cidade como São
Paulo, por exemplo, é muito difícil, independentemente do tipo de
transporte que se usa. O trânsito é intenso. É correr contra o tempo",
afirma Roberto Leão, presidente da Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Educação (CNTE). "Não sobra tempo para nada e
atividades como ler um livro, jornal e revistas se tornam raras. É
contraproducente para a escola."
Para ele, o professor deveria ter uma
jornada que desse espaço para o preparo de uma boa aula. "No cenário
ideal, não deveria ser necessário fazer malabarismos entre redes. A
implementação da jornada do piso, que está na lei, já seria um começo",
diz Leão. "O cansaço é outro fator. Mais exausto, o professor tem pouca
disposição para se atualizar e investir em formação continuada."
A solução, segundo Anna Helena
Altenfelder, superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em
Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), seria o fortalecimento de
um regime de colaboração entre as escolas de um mesmo território, para
que os professores dessem aula em unidades próximas. "Isso evitaria
transtornos como o deslocamento, por exemplo", afirma.
Vínculo
Escolas com equipes estáveis costumam
ser benéficas para os professores, diretores, coordenadores e,
principalmente, para os alunos, uma vez que é possível construir
trabalhos em grupos com outros docentes e aperfeiçoar metodologias. Para
pesquisadores da área, quanto mais tempo e convivência o educador tem
com os alunos, melhor ele apreende o perfil deles e também da comunidade
onde a escola está inserida.
"Na Educação Infantil, obviamente, e no
Ensino Fundamental, é extremamente importante que se crie um vínculo
entre o professor e os alunos. No início da escolarização, ele é a ponte
entre a criança e o conhecimento, porque vai descortinar a relação dela
com o estudo", explica Cisele Ortiz, coordenadora adjunta no Instituto
Avisa Lá, especializado na formação continuada de professores. "O
favorecimento do aprendizado depende muito de como, de fato, esse
professor vai se dedicar a cada criança."
Segundo ela, um número muito grande de
alunos, em diferentes turmas de diversas escolas, dificulta que o
professor conheça e acompanhe todos em suas dificuldades. "Detectar o
jeito de cada um demanda tempo e dedicação. Pois é preciso preparar
melhor as aulas, pensando no tipo de didática que funciona melhor de
acordo com a dinâmica de cada turma", afirma Cisele.
Angela Dannemann, diretora-executiva da
Fundação Victor Civita, acredita que não é necessário que o professor dê
aula apenas em uma unidade. "Não podemos criar um contrassenso. É claro
que uma rotina atribulada afeta a tarefa intelectual do professor,
porque 'pular de galho em galho' não contribui para o seu trabalho, que é
formar crianças e jovens", afirma. "Mas não necessariamente precisamos
disso agora. Há adaptações possíveis. O Ministério da Educação tem feito
um grande esforço com programas como o Pibid (Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência) e o Parfor (Plano Nacional de Formação
de Professores da Educação Básica) para aumentar a qualificação das
licenciaturas."
Segundo ela, a criação de grupos
interdisciplinares nas escolas, que funcionassem no contraturno e
envolvessem docentes de várias disciplinas, seria uma opção para manter o
professor que tem poucas turmas por conta do currículo fragmentado
(caso de sociologia, por exemplo) por mais tempo na escola.
Colegas
Para Anna Helena, do Cenpec, lecionar em
várias unidades de ensino pode prejudicar o relacionamento do docente
com a equipe pedagógica das escolas. "Fica difícil para os diretores
reunirem todos os professores quando necessário. É um impeditivo para o
professor se envolver plenamente no projeto pedagógico da escola. O
trabalho é coletivo. Fica faltando integração com colegas, em reuniões
pedagógicas e no HTPC (horário de trabalho pedagógico coletivo), por
exemplo", explica.
Apesar de achar ideal que o docente
trabalhe apenas em uma escola, ela reconhece que, no caso do Ensino
Fundamental II e principalmente do Ensino Médio, o currículo
extremamente fragmentado, com algumas aulas ocupando apenas um espaço na
grade semanal de cada turma, é um problema de difícil solução.
"No Fundamental I é mais fácil fixar o
professor. Mas no caso dos anos finais, em aulas como sociologia e
artes, o professor dá no máximo duas aulas para cada classe. Não tem
aula para dar a semana toda", explica. "Assim, só entra na escola para
dar aquelas aulas e pronto. É como se estivesse de passagem."
(Todos Pela Educação)CNTE
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